segunda-feira, julho 14, 2008

Depressão e inflação ou como se perde uma aposta

As acções conjuntas do senhor Paulson (secretário do Tesouro) e do senhor Bernanke (Reserva Federal) mostram o que vale, na “hora da verdade”, a proclamada independência dos banqueiros centrais: zero. Em mais uma acção concertada, Tesouro e Reserva Federal dos Estados Unidos tomam medidas para impedir as dolorosas liquidações necessárias à limpeza do mercado (e que o próprio mercado está a forçar), criando condições para continuarem a manter aberta a torneira política do crédito fácil com dólares fresquinhos e cada vez mais desvalorizados. O atarantado mercado bolsista suspende por momentos a queda livre em que já dava sinais de estar até a realidade vir em breve bater de novo à porta. Tudo o que o Tesouro e o Fed estão a fazer é protelar uma liquidação saudável, agravando não só a depressão em que já estamos como o descontrolo inflacionista. O dinheiro valerá cada vez menos e as poupanças que não estão seguras em activos não monetários ou financeiros também. Um crash à moda antiga, apesar das garantias de curto prazo, tem de estar a formar-se porque estes milhões de dólares injectados em investimentos inviáveis estão a envenenar a economia, prejudicando todos os investimentos viáveis (auto-sustentados). O preço do petróleo e dos alimentos, sim, só pode continuar a subir. É por isso que a aposta de Ricardo Arroja de 3 de Junho passado (de ver o preço do barril a 120 dólares dentro de dois ou três meses) estava perdida à partida – não há licenciatura em economia ou experiência profissional que valha a ignorarmos completamente o factor monetário nas análises que fazemos do mercado.